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sábado, 2 de abril de 2011

Blitz



Não tem erro! Qualquer livro que aborde a temática do Rock Brasil diz que a principal responsável pela explosão do movimento foi a Blitz. O mais curioso é que, apesar de ter sido tão importante para a consolidação do gênero do país e, indiretamente, pelo nascimento de bandas como Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Kid Abelha, entre várias outras, a Blitz, volta e meia, tem a sua importância questionada.

Não é incomum ouvir alguém dizer que a banda carioca fazia músicas engraçadinhas, tipo Mamonas Assassinas, e que não durou muito tempo. Com todo respeito aos Mamonas, banda que alegrou o Brasil, infelizmente, por pouco tempo, a Blitz, não foi uma banda engraçadinha que fazia piadas em suas músicas. A Blitz criou uma estética não só musical, mas de comportamento. A banda carioca simbolizou exatamente os anos 80, para o bem e para o mal.

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No início da década de 80, a música produzida no Brasil - tirando os nossos gigantes da MPB - era de qualidade duvidosa, e, apesar da abertura política, o medo da censura ainda não animava os artistas que buscavam ser um pouco mais ousados. Ao mesmo tempo, nesta época, a garotada começava a pedir uma linguagem musical diferente, em que os seus temas básicos fossem tratados de forma mais clara e adolescente.

A renovação do Rock Brasil começou a ser processada logo no início da década de 80. Júlio Barroso fundou a banda Gang 90, que trazia as Absurdettes, e explodiu no Festival MPB Shell de 1981, quando apresentou "Perdidos na Selva". Em 1983, lançaram o disco "Essa tal de Gang 90 & As Absurdettes", que trazia a tal canção do Festival, além de "Nosso Louco Amor", que foi tema de abertura da novela "Louco Amor", escrita por Gilberto Braga.

Em 1981, Evandro Mesquita (integrante da trupe teatral "Asdrúbal Trouxe o Trombone") e o baterista Lobão tiveram a idéia de montar uma banda de rock teatral. A banda foi batizada de Blitz, em homenagem às constantes "duras" que ambos levavam dos guardas. Juntando a irreverência ao rock, acrescido de uma dupla de meninas bonitas e talentosas (Márcia Bulcão e Fernanda Abreu), a banda fez imenso sucesso, no verão de 1982, no Circo Voador. E assim, o conjunto fechou um contrato para gravar um compacto ("Você Não Soube Me Amar") pela EMI. O disquinho fez sucesso e, pouco tempo depois, saiu o LP "As Aventuras da Blitz", que trazia ainda o sucesso "Mais Uma de Amor (Geme Geme)".

Aí não teve mais jeito. A banda se tornou fenômeno nacional. No ano seguinte, a Blitz ainda lançou "Radioatividade", com o sucesso "A Dois Passos do Paraíso". Em 1984, o álbum "Blitz 3" não deu muito certo, mas de qualquer forma a banda realizou uma extensa turnê que lotou as melhores casas de shows, ginásios do Brasil, a Praça da Apoteose e a Cidade do Rock em dois shows na primeira edição do Rock in Rio.

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O livro "As Aventuras da Blitz", escrito pelo jornalista Rodrigo Rodrigues e lançado pela Ediouro, preenche uma lacuna na bibliografia musical brasileira. Titãs, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e RPM já haviam ganhado as suas biografias. Rodrigo Rodrigues, ao lançar a biografia da Blitz, repara a injustiça.

O mais bacana do livro é que o jornalista, apesar de fã declarado, não foi chapa-branca. Se você é daqueles que gosta de saber das brigas que acontecem com as bandas, a leitura de "As Aventuras da Blitz" será divertida. Apesar de não ter conseguido entrevistar três integrantes que estão brigados com os integrantes remanescentes do grupo, o autor conseguiu reconstituir todas as "egotrips" da banda.

Além das brigas, o livro conta a história completa do conjunto carioca, desde a sua pré-história antes do sucesso até o momento atual em que a Blitz transita no chamado "underground luxuoso" (festas de empresas, rodeios no interior...). Obviamente, muita coisa aconteceu no período compreendido entre essas duas situações. E está tudo em "As Aventuras da Blitz": a explosão com "Você Não Soube Me Amar", as gravações dos discos, os shows, o imenso sucesso, problemas com a censura, os desgastes, os shows no exterior, as carreiras solo dos integrantes, as voltas das bandas, etc. etc. etc.

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(Eu me lembro bem do dia em que minha mãe me levou junto com o meu irmão até a Mesbla para comprar o disco "As Aventuras da Blitz". Eu tinha apenas quatro anos de idade - e meu irmão, seis -, mas, por favor, me acredite. O disco da Blitz foi considerado o meu "primeiro disco de adulto", como eu gostava de dizer na época.

Eu cheguei em casa e só queria ouvir "Você Não Soube Me Amar". No dia seguinte, fui escutar o disco inteiro e - surpresa! - as duas últimas músicas estavam arranhadas. Apesar do aviso que os tais arranhões eram propositais por conta da censura, ninguém prestou muita atenção nisso. No mesmo dia, estávamos eu, minha mãe e meu irmão novamente na Mesbla para trocar o disco.

O pior é que o vendedor trocou. Quando vimos que as mesmas duas músicas estavam arranhadas novamente, meu irmão teve a brilhante ideia de ler o aviso que dizia que aquilo era proposital.)

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Embarcando na moda dos "Almanaques", o livro de Rodrigo Rodrigues está senso editado exatamente nesse formato. Às vezes, a leitura fica um pouco prejudicada, mas isso é compensado pelo bonito projeto gráfico (pena que o miolo do livro não seja colorido...), que foi idealizado por Luiz Stein, o mesmo que formatou todo o design da banda desde o seu surgimento.

Além do texto ágil e informativo de Rodrigo Rodrigues, "As Aventuras da Blitz" traz um punhado de fotos raras que vão pirar as cabeças dos fãs. Além das fotos, diversas reportagens que podem ser lidas na íntegra (apesar da letra geralmente miudinha). Uma das mais curiosas, que fala sobre o show da banda em Moscou em junho de 1985, está lá na página 195. Quem assinou foi ninguém menos que o grande jornalista Marcelo Beraba, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo, que ainda fez piadinha no final do texto, citando os bordões da Blitz "Vocês venceram. Tudo muito bem, tudo muito bom".

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Por essas e outras, a leitura de "As Aventuras da Blitz" é bastante divertida (e informativa). Mesmo quem não tenha tanto interesse em música a ponto de ler um livro de mais de 300 páginas, vai se surpreender (e se divertir).

A Blitz, muito mais do que "uma banda de rock que fez sucesso no início dos anos 80", criou um estilo próprio de comportamento. Não é exagero nenhum afirmar que a Blitz era a cara do Rio nos anos 80.

E que saudade do Rio dos anos 80!

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